Bianca Pedroso

Universos entre linhas


Sobre colocar nossa essência

Recentemente tenho testado uma nova forma de olhar os livros, mas você provavelmente não está aqui por isso, talvez esteja até se perguntando o que Sherlock Holmes e colocar nossa essência nas coisas tem a ver, mas prometo que vou explicar, apenas fique comigo e continue lendo este artigo.

Como leitora, sempre fui constantemente preocupada em deixar os livros impecáveis, como se não tivessem sido tocados, bem estilo saindo da livraria com aquela beleza toda. Não abria eles muito para não ficar com marcas, odiava quando as pontas amassavam ou criava orelhas sem querer nas capas ou nas páginas.

Eu odiava marcas de uso, como quando usamos marca-texto e ele transpassa a página, ou quando a linha de marcação não sai milimetricamente perfeita, queria que eles fossem perfeitos, impecáveis e parecessem imaculados, como as fotos perfeitas do Pinterest, afinal, há algo pior do que o livro vir todo bonito, e quando abrirmos para ler, as páginas e a capa ficarem para cima e não mais comprimidas como estavam?

Eu odiava, e tentava fazer de tudo para voltar ao que era antes.

Mas recentemente tenho pensado, tudo começou quando vi uma forma de estudo nos stories do instagram da Thálassa Coutinho, que era a de escrever a cada final de capítulo o que havíamos aprendido nele.

Decidi testar, no primeiro capítulo a minha leitora conservadora já atacou e eu escrevi em post its colados na página, apenas para não ter que “marcá-la para sempre”, mas depois vi que não era muito viável essa ideia e deixei para lá.

Coincidentemente, o livro que peguei para fazer este teste, era Sherlock Holmes, O signo dos quatro, eu iria analisar a narrativa como um todo enquanto me divertiria com a história, e já no começo do livro Watson decide testar Holmes.

Ele entrega um antigo relógio e pede para que o detetive descubra os hábitos de seu antigo dono apenas com o que estava no relógio, como um desafio para as suas habilidades de observação e dedução, além de entretê-lo em seu corriqueiro tédio por falta de novas investigações.

-Ele era um homem de hábitos desordenados… muito desordenados e descuidados. Tinha boas perspectivas quando começou, mas desperdiçou oportunidades, viveu algum tempo na pobreza, com ocasionais e breves intervalos de prosperidade e, finalmente, entregando-se à bebida, morreu. Isso é tudo o que posso deduzir

O signo dos quatro

-Não, não; eu jamais tento adivinhar. Isso é um hábito chocante… destruidor para a capacidade lógica de raciocinar. O que lhe parece estranho o é somente porque você não acompanhou a linha de pensamento nem observou os pequenos fatos dos quais grandes deduções podem ser inferidas. Por exemplo, comecei por afirmar que seu irmão era descuidado. Se observar a parte inferior da caixa de relógio, vai notar que ela não está amassada em apenas dois lugares, mas está riscada e arranhada em toda parte, em decorrência do hábito de guardar objetos duros, como moedas ou chaves, no mesmo bolso. Certamente não é grande feito supor que um homem que trata com tanto desdém um relógio de 50 guinéus seja um homem descuidado. Tampouco é dedução muito artificial inferir que um homem que herda um objeto de tamanho valor não esteja bem provido em outros aspectos.

O signo dos quatro

Comecei a pensar então, quando pegasse aquele livro para ler novamente, ou quando passasse ele para meus filhos (que não tenho), o que gostaria que visse? Um livro imaculado como se tivesse acabado de sair da fábrica ou um livro que já foi meu, com as minhas anotações, minhas marcações e os meus pensamentos naquele momento gravados em um livro.

Claro que não estou falando para fazer do livro um “Destrua este diário” e sair dando a louca, mas questionando, qual o sentido de fazer do livro um objeto imaculado e intocado apenas pela beleza? Na minha opinião, memórias são belas também e quando um objeto as carrega com si, seu valor aumenta mil vezes mais.

Os pequenos detalhes intrigam, enriquecem e deixam mistério à obra da vida, e muitas vezes nos trazem perguntas como estas, que honestamente estão muito longe de serem grande coisa, mas são perguntas do mesmo jeito.

Agora me conta nos comentários, como você trata seus livros?



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SOBRE MIM

Olá, sou a Senhorita Universo, idealizadora deste blog, tecnóloga de administração e escritora, leitora por amor e viciada em finais felizes.

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